marisavalladares
Eu posso aprender vendo,
ouvindo, falando, fazendo. Em cada uma dessas modalidades, eu aprendo numa
proporção diferente e retenho por um tempo diferente. Como sou único no meu
jeito de ser, a minha aprendizagem torna-se exclusivamente minha até eu
torna-la ensinagem. A minha aprendizagem resulta de conexões entre esquemas
mentais pré-existentes em minha vida, que se refazem a todo instante, diante de
novos desafios de aprender a resolver situações. As aprendizagens evoluem, como
mudanças sutis, quase imperceptíveis, cumulativas, intrincadas umas nas outras,
crescentes, resultantes de novas aquisições que surgem dessas mudanças e se
impregnam em outras tantas, que, às vezes, eu nem percebo que aprendi! Às
vezes, as aprendizagens novas me surpreendem, como se um enorme quebra-cabeças,
composto de mil cacos de mil imagens dos cosmos incontáveis do universo de
saberes, se reorganize num flash instantâneo como se faz a luz... e, aí, vejo
que aprendi! Tudo assim tão lúcido, tão claro, tão eficazmente perfeito que me
faz crer na minha verdadeira fonte de saber: DEUS...
Para aprender nem sempre
preciso me esforçar muito: o saber vai se construindo assim bem de mansinho,
bem no prazer de descobrir, bem na alegria de juntar, bem na satisfação de
compreender e elaborar respostas... Porém, às vezes, eu preciso fazer um enorme
esforço para vencer o cansaço, a vontade de largar tudo para lá e continuar no
exercício de buscar os dados, entender o texto, resolver o problema, mapear o
espaço, registrar o tempo... Doem os olhos de sono, ardem as costas na postura
de manter o rosto voltado para o livro ou para o monitor, as pernas e os pés
pedem socorro, o sangue martela nas têmporas... Cada pedacinho de entendimento
vai nascendo sofrido e fazendo sofrer.
Aprendo conceitos
extraídos de informações, dados, fatos e fenômenos, burilados em ensaios,
emergências, problematizações, reflexões... Aprendo procedimentos ao coletar e
tratar os dados: ler, escrever, efetuar, mapear, representar... Formam-se atitudes
e normas que estruturam valores e juízos sobre o mundo.
Aprendizagens se superam,
tornam-se lembranças e viram novos desafios...
Aprendizagens não cessam e
que precisam ser selecionadas para que eu possa “viver e não ter a vergonha de
ser feliz”! Aprendizagens são bênçãos que permitiram ao homem voar, vencer
doenças, atravessar oceanos, extrair do solo novas promessas de alimentos.
Aprendizagens podem ser pragas que mancham o mundo como o inesquecível tom
violáceo da rosa de Hiroshima. Podem ser como o rastilho de pólvora das drogas
ao se propagarem como derrotas que custam caro e enriquecem alguns.
Aprendizagens podem ser
simples como descobrir o prazer de sentar ao sol, organizando o tempo para
desfrutá-lo sem prejuízo para as obrigações cotidianas. Podem ser complexas
como a criação de equipamentos sofisticados ou como a descoberta de remédios
importantes. Aprendizagens infantis nos intrigam porque já as superamos e,
hoje, são simples para nosso saber acumulado. Aprendizagens adolescentes nos
encantam ou nos fastiam ou nos irritam porque nos desmistificam como sábios
superiores aos jovens- eles sabem que logo nos alcançarão! Aprendizagens são
pontes entre nós e o infinito, por isso são simples depois que se efetuam e
continuam complexas enquanto nos são estranhas. Aprendizagens são fios de luz
entre nós e o saber, cintilando e marcando o caminho para que busquemos o
horizonte utópico: quanto mais nos acercamos, mais longe ele nos convida a
ir...