sexta-feira, 15 de outubro de 2010

DIA DOS PROFESSORES

Professores e professoras,


Hoje é nosso dia. Vamos refletir um pouco sobre nós mesmos, sobre nossas vidas, nossas histórias? E vamos potencializar a felicidade de sermos professores e professoras, a despeito de todas as incertezas, de todas as tristezas, de todas as fragilidades...Vamos conversar nos convencendo de que é possível, como foi possível, e de como será sempre possível SER PROFESSORA E PROFESSOR!

Felizes dias de professores!!!


Professores do passado, do presente e do futuro

por Marisa Valladares


Comecei a trabalhar como professora em meados da década de sessenta. Provavelmente, algumas das pessoas que nos leem, sequer haviam nascido. Fui chamada de normalista como elogio. As mães e pais me procuravam na escola me pedindo conselhos (embora eu fosse mais jovem do que muitos deles) sobre a educação de seus filhos. Também era procurada para queixas sobre as crianças e sobre adolescentes: Não sei como a senhora dá jeito em meu filho...E eu pensava: Também não sei, considerando que não é só ele, são mais outras tantas dezenas deles, em apenas 4 horas ou duas aulas semanais de 50 minutos...Recebia elogios e quando eles faltavam, persistia o respeito à minha autoridade de professora. A sociedade me acolhia, me exigia como alguém importante no tratamento da vida em comum. Eu ganhei sabonetes e bibelôs de louça como presentes no dia do professor. Ganhei flores, abraços, perfumes, beijos melados de pirulito, a pulseira da mãe que não podia me comprar um presente e que precisava ser devolvida sem causar constrangimento. Então, eu sou uma professora do passado.

Mas eu continuo sendo professora. Assombro-me com posturas de professores que recusam serem chamados de senhor ou senhora, mas que reclamam um tratamento respeitoso pela sociedade. Vejo a profissão ser banalizada e restar só um aparente fazer, invisibilizado e desconhecido pela comunidade. Pouco ou nada se diz ou se faz pelo professor que acorda às cinco da manhã, mal toma um café de ontem, corre (ou fica parado, ao sabor do trânsito louco) de ônibus, de moto ou naquele carro - que ninguém sabe como financiou e como pagará - para a jornada de sete às sete, às vezes espichada num horário noturno ,inexplicavelmente longo, onde meia-noite é como um tempo de cinderela – se não correr para dormir, os trabalhos e as provas o transformam em abóboras ao vento... Pouco ou nada se sabe da estranha matemática de cinqüenta alunos em cinqüenta minutos de aula, em muito menos de cinqüenta metros quadrados... Pouco ou nada se sabe da inquieta esperança de cinqüenta por cento de abono sobre o salário, para não virar salário, no final de ano.

O que se sabe é que estão furiosos, irados, doentes, desanimados, mal informados e mal formados, que são negligentes, que não querem nada, que não se fazem professores como antigamente. Há notícias nos jornais e na TV sobre professores que jogam notebooks sobre alunas, que chingam meninos, que entram em greve.

Nem uma palavra sobre os milhares de profissionais que, silenciosamente, para a mídia, continuam alfabetizando em diferentes intensidades, níveis, segmentos, prosseguem ensinando, aprendendo juntos a ler o mundo e a escrever a vida... Ninguém para ver o abraço desconfiado do adolescente, que não ouve e não dialoga com os pais... Ninguém para dizer do esforço e do custo para se fazer a cópia do texto que a turma não tem como pagar... Ninguém para estimular o estudo, roubado às horas de sono, para sonhar com um mestrado, com um doutorado, quase impossível de conquistar...

Ouço o alarido que vem por detrás dos muros da escola, com saudade, e ouço dizer, indignada, que é só bagunça. Que seria do nosso país sem os professores a quem são entregues crianças, jovens e adultos, todos os dias, para uma pretensa mágica de aprender, não importa em que condições? E não é que ela acontece?

Sou professora universitária. Vejo com preocupação que nossa conquista de universalização da escola e da universidade, apesar de ter gerados altos números de matrícula, não tem equivalência em universalização do conhecimento. Como professora de estágio e de prática de ensino, transito entre escola e universidade. Sofro, vendo ambas se esgarçarem no tecido social. Mas, continuo. Faz tempo que não ganho flores, nem perfume, nem caneca, embora seja bastante homenageada por meus alunos em suas cerimônias de formatura. De presente mesmo, só a certeza de que sou professora do presente. Com todas suas implicações.

... E com seus desdobramentos: sou professora do futuro, pois me projeto para lá, por meio dos meus alunos-licenciandos, quase professores, professores no presente às vezes, que se legalizarão num futuro próximo, quase amanhã. Por meio deles, abro uma janela para o futuro, esperando que nossas convicções, tecidas em conjunto, sejam e estejam presentes num outro espaçotempo. Por meio deles, de suas expectativas, de seus desejos, acredito numa sociedade melhor, justa, digna, num mundo bonito de se viver. Eles me provocam em promessas de um outro modo de ensinar, numa procura de um novo jeito de ser escola e universidade.

E porque acredito nisso, ouso falar com vocês. O futuro é aquele tempinho que já se tornou passado, do começo de minha escrita ou de sua leitura até agora. Ele é também aquela porção de tempo que promete estar logo ali. Então, conto-lhes o porquê de minha ousadia: eu peço a cada um que está aí, lendo, concordando ou discordando, para fazer uma ligação para aquela professora que fez diferença em sua vida e dizer como isso foi importante para você. Peço-lhe que dê uma chegadinha numa escola e dê um abraço num professor, mesmo desconhecido. Diga-lhe como é importante para a sociedade o seu trabalho bem feito. Peço-lhe que ligue para uma rádio, uma emissora de TV, um jornal, e diga para anunciarem aos quatro ventos que o professor e a professora precisam ser bem tratados por todos, que precisam de acolhimento, que são produtores de conhecimento e que só podemos lhes dar em troca reconhecimento.

Estou esperando, com carinho...